Clindoxyl: Precisa de Receita? O Que Posso Esperar do Tratamento?


Foto de Sora Shimazaki no Pexels

Geralmente, quando você vai em uma consulta para tratar acne, será receitado mais de um medicamento. O dermatologista te passará um protocolo de produtos para aplicar ou tomar.

Essas associações irão atacar várias “frentes” e aumentar o seu sucesso no tratamento da acne.

O Clindoxyl é um dos medicamentos que associa mais de um ativo, já que une o peróxido de benzoíla com um antibiótico, a clindamicina. Assim, é uma opção muito utilizada pelos dermatologistas e que pode ser muito eficaz para tratar as suas espinhas e cravinhos.  

Mas, para você saber se essa é uma boa opção para você, esse post irá te auxiliar muito já que você irá descobrir:

  • Quais são as vantagens dessa associação;
  • Quem deve usá-lo, seus tipos e preços
  • Quem não deve usar o Clindoxyl;
  • Qual a diferença entre o Clindoxyl e o Clindoxyl Control;
  • Efeitos colaterais mais comuns do Clindoxyl;
  • Qual a melhor maneira de usar o Clindoxyl;
  • E mais!

Esse texto faz parte de uma série de textos feitos com o apoio da dermatologista Betina Faggion, abordando mais profundamente os principais remédios e produtos usados para a acne. Caso você queira se aprofundar em outros tratamentos e remédios possíveis, no fim desse post você encontrará o link para os outros posts.

Existe um outro creme chamado Clindoxyl Control que contém apenas peróxido de benzoíla e não precisa de receita, se você está procurando informação sobre ele, este é um post completo sobre esse medicamento. 

COMO O CLINDOXYL FAZ EFEITO?

O Clindoxyl é uma associação de um antibiótico tópico, chamado clindamicina com peróxido de benzoíla, outra substância muito usada no tratamento de acne.

CLINDAMICINA 

A clindamicina é um antibiótico que vai matar a bactéria P. acnes. O papel dessa bactéria na acne ainda não é bem entendido pelos cientistas. 

Mas, o que se sabe é que as bactérias P.acnes tem um potencial inflamatório dentro das lesões, o que pode piorar o quadro geral da acne, causando espinhas bem inflamadas e cheias de pus. 

Esse antibiótico, presente no Clindoxyl, vai trazer benefícios para a pele melhorando a inflamação e a infecção (pus). Isso faz com que ele seja especialmente efetivo em acnes inflamatórias, como espinhas, pústulas e abcessos.

PERÓXIDO DE BENZOÍLA

Já o peróxido de benzoíla é um dos compostos mais utilizados no tratamento da acne e na dermatologia e seus mecanismos já são bem conhecidos.

Seu papel no tratamento da acne é resultado da sua capacidade de eliminar a bactéria P. acnes, prevenir cravos (microcomedões) e reduzir a queratina da pele, responsável por entupir os poros. 

O mais interessante do peróxido de benzoíla é que ele não cria resistência antibiótica, que é quando a bactéria não responde ao tratamento com antibiótico.

Os efeitos comedolíticos (prevenir cravos) e queratolíticos acontecem porque o peróxido de benzoíla tem um efeito esfoliativo e de “peeling” na pele, acelerando o ciclo de vida da epiderme. Esse efeito peeling retira também o sebo da pele, ajuda no controle da oleosidade e consequentemente no aparecimento da acne. 

PERÓXIDO DE BENZOÍLA E A CLINDAMICINA

Agora, por quê usar os dois em associação?

Primeiramente porque o uso desses dois ativos pode trazer um resultado melhor do que quando usados separados

Este estudo de 2001, feito com 492 pessoas, demonstrou uma eficácia maior em questão de contagem de lesões, quando comparou o uso do peróxido isolado com o do peróxido + clindamicina, que é exatamente a fórmula do Clindoxyl. 

Este outro estudo mostrou que os resultados são superiores quando há a  associação das duas substâncias se comparadas ao seu uso isolado.  

Agora, para entendermos o segundo motivo, precisamos saber que a P.acnes vem criando resistência aos antibióticos mais usados para tratar a acne: a clindamicina e  a eritromicina. E não é que existirão novos antibióticos para acne tão cedo. Por isso, pode ser que seja muito difícil eliminar a P.acnes daqui uns anos.

Só para se ter uma ideia, a clindamicina pode parar de funcionar depois de dois meses de uso contínuo. Mas o peróxido pode ajudar com isso! Ele é capaz de diminuir essa resistência. 

Tanto no tratamento tópico quanto oral, o uso de peróxido pode fazer com que o antibiótico faça efeito por mais tempo.

CLINDOXYL: TIPOS E PREÇO

O Clindoxyl é um remédio produzido pelo laboratório Stiefel, que tem concentração de 1,25% de fosfato de clindamicina (que corresponde a 1% de clindamicina, um antibiótico) e 5% de peróxido de benzoíla. 

Ele é vendido em bisnagas de 30 e 45 gramas e o preço médio é:

  • Clindoxyl Gel 30g: aprox. R$ 50
  • Clindoxyl Gel 45g: aprox. R$ 75

Por conter antibiótico, é necessário receita para comprar o Clindoxyl. 

Lembrando que o mesmo laboratório possui um remédio com o nome de Clindoxyl Control que possui como substância ativa apenas o peróxido de benzoíla e não é necessário receita para a compra

Na pele, o Clindoxyl é um gel transparente e espesso. E ao retirá-lo da pele ele vai se transformar em uma gosminha quando misturado com a água. 

Não existe outro laboratório no Brasil que produza a associação de clindamicina tópica com peróxido de benzoíla. 

QUEM NÃO DEVE USAR O CLINDOXYL GEL?

QUEM TEM PROBLEMAS NO INTESTINO

Antibióticos, principalmente orais, podem afetar a flora intestinal e causar úlceras e inflamações. O uso de antibióticos por pessoas que já possuem esses problemas deve ser controlado e reduzido.

GRÁVIDAS OU AMAMENTANDO

Como a própria bula explica, o conhecimento sobre a segurança no uso de Clindoxyl por mulheres grávidas ainda é limitado. Além disso, não se sabe se a clindamicina é absorvida pelo corpo e chega no leite materno, portanto, o uso por mulheres amamentando também deve ser com cautela. Consulte um médico antes de iniciar o tratamento nestes casos. 

PELES MUITO SENSÍVEIS

Por conter peróxido de benzoíla, o Clindoxyl deve ser evitado em peles muito sensíveis, principalmente as que sofrem com dermatites e rosácea. Esse composto, pode causar vermelhidão e descamação, que pode piorar o quadro destas outras doenças.

EFEITOS COLATERAIS DO CLINDOXYL

Os efeitos colaterais mais comuns do Clindoxyl Gel são:

  • Vermelhidão leve
  • Descamação leve
  • Coceira leve
  • Dor de cabeça
  • Queimação e ardência
  • Dor no local
  • Sensibilidade a luz no local

É possível também que você tenha uma reação alérgica a algum componente da fórmula. Por isso, antes da primeira aplicação sempre faça um teste no pulso. 

Aplique uma pequena porção do produto, depois de uma noite, procure por reações como pele avermelhada com muita coceira (urticária). Em alguns casos raros pode acontecer inchaço na boca e rosto, podendo causar dificuldade na respiração. Nesse caso, procure um médico imediatamente.

Por último, antibióticos podem causar em algumas pessoas diarréias graves e prolongadas. Isso é mais incomum com antibióticos tópicos, mas pode acontecer. Nesse caso, também procure um médico o quanto antes. 

COMO USAR O CLINDOXYL GEL?

Antes de usá-lo, confira algumas dicas valiosas: 

  1. A bula do Clindoxyl Gel aconselha o uso do medicamento 1 vez ao dia, durante a noite. 
  1. Limpe bem a pele antes da aplicação com um sabonete líquido apropriado e não esqueça de secar bem a pele.
  1. Aplique uma quantidade bem pequena do produto. Se você aplicou e o produto deslizou facilmente pela pele, a quantidade do produto foi exagerada. É uma camada bem fina!
  1. Evite as regiões dos olhos, em volta da boca e nariz, pois são mais sensíveis.
  1. Lave bem as mãos após o uso. 
  1. Caso você esteja com muitos efeitos irritativos, você pode usar algumas táticas como: aplicar um hidratante junto com o Clindoxyl, reduzir seu uso para dias alternados ou cessar seu uso por um curto período.
  1. Faça seu skincare e aplique o produto depois de colocar o pijama. Isso porque o peróxido de benzoíla presente na fórmula pode manchar algumas roupas e tecidos. Outra dica é trocar seu lençol, toalhas e pijamas por versões brancas e básicas. Os tecidos brancos não mancham, e assim, você não corre o risco de estragá-los.  

Agora, que já vimos algumas dicas, vamos ver como encaixá-lo na sua rotina de skincare:

À noite

  1. Lave bem seu rosto com um sabonete líquido
  2. Aplique um tônico facial, se quiser.
  3. Hidrate a sua pele, principalmente se  o seu rosto estiver vermelho  ou descamando por causa do uso do produto. A hidratação ajuda com os efeitos colaterais. 
  4. Aplique bem pouquinho do Clindoxyl por todo o rosto. Espere secar antes de encostar em algum lugar para evitar manchas em tecidos. 
  5. Lave bem a mão.

De manhã

  1. Lave seu rosto muito bem com um sabonete líquido e retire todo o produto. 
  2. Lave bem a mão.
  3. Aplique um hidratante.
  4. Não esqueça do protetor. O Clindoxyl pode deixar sua pele mais sensível ao sol. 

Além disso, não use o Clindoxyl por mais de 12 semanas sem que seu médico saiba. Isso, principalmente, por causa da resistência antibiótica. 

EXPECTATIVA DE TRATAMENTO

SEMANA 1 E 2

Os resultados de medicamentos que contém o peróxido de benzoíla são geralmente mais rápidos. É provável que durante a primeira e segunda semana já seja possível ver alguma melhora na sua pele. Além disso, alguns efeitos adversos, como descamação e vermelhidão já podem ter ocorrido. A oleosidade da sua pele pode ter reduzido também

SEMANA 3 E 4

Com o uso contínuo do antibiótico tópico, é possível que as espinhas com pus e inflamadas estejam melhores. A taxa de aparecimento de espinhas pode ter diminuído também.

SEMANA 5 EM DIANTE

Se você não percebeu melhoras até a semana 5, provavelmente terá que seguir outra abordagem. Marque uma nova consulta com seu dermatologista para reavaliação. 

SEMANA 12

Por conter antibiótico, não é recomendável (na maioria dos casos) o uso desse medicamento por mais de 12 semanas. Retorne ao seu dermatologista para discussão de novos tratamentos. 

CLINDOXYL GEL E CLINDOXYL CONTROL. QUAL A DIFERENÇA?

O Clindoxyl Control é um medicamento que possui como princípio ativo APENAS o peróxido de benzoíla. Já o Clindoxyl Gel tem, além do peróxido de benzoíla, o antibiótico clindamicina.

Por esse motivo, enquanto o Clindoxyl Control é vendido sem receita, o Clindoxyl Gel é um remédio controlado que pede receita. 

Outra diferença é que o Clindoxyl Control é vendido na concentração 5% e 10% de peróxido de benzoíla e existem outros vários laboratórios que produzem versões como essas, com apenas peróxido na fórmula. Já a fórmula do Clindoxyl Gel é apenas produzida por essa farmacêutica, não havendo outras opções no mercado brasileiro, além do peróxido de benzoíla nessa versão ser apenas na concentração de 5%. 

Os dois vão ser efetivos no tratamento de acnes mais leves (Tipo I e tipo II), mas principalmente na acne inflamatória. Entretanto, como mostrado anteriormente, alguns estudos demonstram que a associação clindamicina mais peróxido de benzoíla (Clindoxyl Gel) é um pouco mais eficaz. 

EU PRECISO USAR ANTIBIÓTICO PARA ACNE?

O uso de antibióticos orais e tópicos é apenas uma linha de tratamento possível para a acne. Isso porque, mesmo sendo eficazes, o uso de antibióticos traz alguns problemas. Além disso, existem outros tratamentos substitutos a ele (na maioria dos casos).  

RESISTÊNCIA

O primeiro problema com o uso de antibióticos é a resistência em nível global desses remédios. As bactérias são seres vivos que passam por mutações e são altamente adaptáveis ao meio. Com o tempo, algumas dessas mutações podem criar mecanismos para se proteger dos antibióticos, e como não morrem, passam essa imunidade para as outras bactérias.  

O uso exagerado de um antibiótico aumenta as chances das bactérias aprenderem a se proteger desses medicamentos. O uso indevido também pode acelerar essa resistência.

Além disso, por mais que você nunca tenha tomado a clindamicina, por exemplo, pode ser que algumas bactérias P. acnes que vivem na sua pele já sejam resistentes a ela. Esse problema acontece com todos os antibióticos, e este é o primeiro motivo pelo qual é necessário a redução de uso.

MATANDO AS BACTÉRIAS BOAS TAMBÉM

O segundo problema é que o antibiótico pode acabar matando algumas outras bactérias. Talvez você não saiba, mas nem todas as bactérias são ruins. Muitas delas são inclusive importantes para o equilíbrio do nosso corpo. 

Como já falei lá no começo do texto,a P. acnes ajuda nossa pele, impedindo que outros microorganismos mais agressivos se estabeleçam nos poros. Portanto, ao passar um antibiótico tópico você pode estar matando essas bactérias “boas” do corpo.

A clindamicina oral também pode causar o mesmo problema. O uso de antibióticos está ligado ao desequilíbrio da microbiota intestinal e vaginal, por exemplo, sendo relacionada a problemas como a candidíase.

Obviamente, o uso de antibióticos é necessário em alguns casos e pode trazer resultados muito satisfatórios no tratamento da acne, mas por todos esses motivos expostos, seu uso é controlado e se torna necessário o acompanhamento médico.

RESULTADOS IMEDIATOS

Um terceiro problema com o uso de antibióticos tópicos e orais para a acne é que eles tendem a ter um resultado super imediato, então, quando não são associados com outros medicamentos, as lesões e espinhas podem voltar após o cessamento do tratamento.

O uso de antibiótico se torna necessário quando percebe-se que a inflamação e infecção causada pelas P. acnes precisam ser controladas para o bem estar do paciente e  para diminuir as chances de cicatrizes de acne.

Entretanto, junto com o uso de antibióticos, outros cremes tópicos com propriedades de controle do sebo, comedolíticas e queratolíticas devem ser utilizados para que os resultados perdurem para além do tratamento.

TRATAMENTOS ALTERNATIVOS QUE NÃO PRECISAM DE RECEITA

Então, se você não tem uma receita para o Clindoxyl, saiba que existem outras opções, até mais potentes e que não são controladas. 

Uma dessas opções é o uso de retinóides, como o Vitacid (tretinoína) e o Differin (adapaleno). Esses cremes vão atacar as várias frentes da acne: reduzindo a atividade da P. acnes, regulando o sebo da pele, diminuindo a queratina que entope os poros e reduzindo a inflamação. 

Outra opção é o Clindoxyl Control (peróxido de benzoíla) que vai agir, também, eliminando a bactéria da P.acnes, prevenindo os cravos e “quebrando” a queratina. Entretanto, seu mecanismo de ação é diferente de um antibiótico comum, não causando a resistência antibiótica. 

Se você não sabe qual tratamento seguir, neste post você vai ter um resumo de todos os remédios mais efetivos para a acne que não precisam de receita. 

Mas, se sua acne for mais agressiva, com uma quantidade grande de espinhas, e com a presença de espinhas internas, abcessos e pústulas, é fortemente aconselhável que você marque uma consulta com um dermatologista para entender a necessidade do uso de antibiótico ou de outros tratamentos mais agressivos com medicamentos que necessitem de prescrição.

QUAL É O PAPEL DA P.ACNES NA ACNE?

Como eu citei acima, o que se entende do papel das bactérias na acne está mudando muito. Esta parte do texto é um pouco mais nerd, para quem, assim como eu, gosta de entender o porquê das coisas e as descobertas dos novos estudos. 

Um ponto interessante, é que a P. acnes nem sempre é a vilã. Ela também habita peles saudáveis. Em muitas pessoas, ela é importante no equilíbrio da pele, porque impede que outros microorganismos mais prejudiciais habitem essas regiões. Inclusive, um número mais baixo das propionibacterias tem sido correlacionado com outras doenças de pele, como psoríase e dermatite (1, 2).

O que se acreditava antigamente é que um maior número de bactérias P. acnes estava correlacionado a acne. Entretanto, este estudo mostrou que tal correlação não existe, havendo pessoas com grande quantidade da bactéria e mesmo assim sem acne. 

Outra descoberta recente é que nem todas as bactérias P.acnes são iguais. Existem subgrupos dentro delas, chamados de filogrupos. Foi percebido que um tipo de P. acnes está mais relacionado a peles doentes, enquanto, outros tipos estão mais relacionados a peles saudáveis. Então outra possível hipótese é que, nem todas as P. acnes causam acne, apenas alguns subtipos. 

Hoje a grande dúvida é se a P. acnes causa as espinhas, ou se, outros fatores, como genética, desequilíbrio hormonal e outros, são responsáveis pelo aparecimento das espinhas e as bactérias apenas pioram o quadro.

OUTROS CREMES COMUNS NO TRATAMENTO DE ACNE

Vitacid: creme mais potente, porém com mais efeitos colaterais. Post completo sobre o Vitacid e treinoína (componente do vitacid) aqui.

Differin: creme da mesma família do Vitacid, porém com um pouco menos de efeito colateral. Post completo sobre o Differin e o adapaleno (componente do Differin) aqui.

Azelan: Componente ativo é o ácido azeláico. Ideal para peles muito sensíveis. Post completo sobre o Azelan aqui.

Epiduo: Une o adapaleno com o peróxido de benzoíla para um tratamento completo. Post completo aqui.

Clindozyl Control e Benzac AC: Produto com o peróxido de benzoíla, muito falado neste texto. Post completo aqui.

 

Mariana Faggion

Sempre gostei de realmente entender tudo. Na verdade só consigo criar um hábito se tenho 100% de confiança que aquilo é realmente bom para mim. E essa característica minha está no mundo do skincare também. Me vi submersa em tanta informação que comecei a ficar confusa! Por isso ao escrever cada texto eu busco muita informação de confiança: médicos, livros e estudos. E então eu tento simplificar o máximo possível para que você não precise ficar confusa também.

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